Nas PMEs com sócias mulheres, 50% das contratações são femininas. Já nas demais empresas, esse número cai para 40%. No regime CLT são as mulheres as que mais faltam ao trabalho para acompanhar familiares em consultas médicas
Dados do Painel de Impacto Social da VR, ecossistema de soluções para trabalhadores e empregadores, extraídos a partir de uma base de mais de 100 mil empresas, destas mais de 85% pequenas e médias, revelam que 18% das empresas são comandadas exclusivamente por mulheres, enquanto 40% são lideradas somente por homens.
Além disso, quando elas empreendem, as mulheres tendem a ter negócios mais jovens e menores: 44% das empresas comandadas por elas têm menos de cinco anos de existência e 46% têm até nove funcionários. Quando analisados os CNPJs liderados exclusivamente por homens, esses números caem para 39% em ambos os casos.
Para Adriana Conconi, diretora de Dados e Mensuração de Impacto da VR, os dados mencionados sobre empreendedorismo feminino podem estar relacionados a diversos fatores tais como a necessidade de empreender para gerar renda e sustentar suas famílias ou ainda a flexibilidade que o próprio negócio dá à mulher para conciliar com responsabilidades familiares, por exemplo, proporcionando maior autonomia sobre seus horários. Outro cenário apontado por Adriana é que, frequentemente, as empreendedoras atuam em setores específicos e de menor escala, como como moda, alimentação e beleza, que podem ser iniciados com investimentos menores e, muitas vezes, operam em espaços domésticos. Isso contribui para o perfil de empresas menores e mais jovens.
Emprego
Com uma base de mais de 4 milhões de trabalhadores que utilizam os serviços VR, seja de marcação de ponto, férias, escalas, mobilidade, alimentação, serviços financeiros, entre outros, o painel de impacto da VR mostra que mulheres de classe sociais mais baixas têm menos acesso ao mercado formal de trabalho e, talvez por isso, recorrem mais ao empreendedorismo. Na amostra analisada, identificou-se que, enquanto na classe A 41% das mulheres estão trabalhando no mercado formal, esse número cai para 37% nas trabalhadoras da classe C e para 20% na classe E.
Além de terem menos oportunidades, outra questão importante e que reforça os desafios da mulher no regime celetista é que elas são as principais responsáveis por acompanhar familiares em consultas médicas, respondendo por cerca de 70% dos atestados médicos entregues para essa finalidade.
A análise da VR também mostrou que quando as mulheres lideram as empresas, há uma maior tendência de contratação de outras mulheres, enquanto nas empresas lideradas por homens, a presença feminina é menor, refletindo padrões de desigualdade na distribuição de gênero. Os dados mostram que 5 em cada 10 trabalhadores contratados por PMEs lideradas por mulheres, por exemplo, são do gênero feminino, número que cai para 4 em cada 10 em outros modelos de sociedade.
“O fato de empresas lideradas por mulheres tenderem a contratar mais funcionárias do gênero feminino pode ser atribuído a uma mudança significativa no cenário corporativo, refletindo um avanço nas discussões sobre igualdade de oportunidades”, destaca Adriana. Para ela, a presença de mulheres em posições de liderança não apenas amplia a representatividade feminina, mas também promove uma cultura organizacional mais inclusiva e colaborativa. “Já existem estudos acadêmicos indicando que a liderança feminina não apenas promove a igualdade de gênero, mas também impacta positivamente o desempenho organizacional, alcançando maior rentabilidade, um ambiente mais inovador e mais engajamento dos colaboradores em comparação com empresas que tem liderança predominantemente masculina. Além disso, empresas com mulheres em posições de liderança tendem a adotar estilos de gestão mais inclusivos e colaborativos, o que pode resultar em ambientes de trabalho mais equilibrados e produtivos”, detalha a diretora.
Distribuição por ramos de atividade
Nas amostras específicas por segmentos de mercado, em empresas comandadas exclusivamente por mulheres, os setores que contam com maior presença de funcionárias mulheres são serviços administrativos (cerca de 30 mil), comércio varejista (aproximadamente 20 mil) e seleção de mão de obra (cerca de 15 mil). Outros setores com forte presença feminina incluem educação e alimentação, como mostra o gráfico com o recorte apenas de empresas lideradas por elas.
Já nas empresas lideradas apenas por homens, a distribuição é diferente. No setor de serviços administrativos, a presença de funcionários masculinos ultrapassa 150 mil, sendo maior do que a quantidade de mulheres contratadas. No comércio varejista, os números também são significativamente maiores de contratações masculinas do que o recorde de empresas comandadas por mulheres.
“Com o Painel de Impacto Social, nós acompanhamos continuamente os indicadores do nosso ecossistema e incorporamos dados externos, o que permite gerar insights atualizados e entender como nossas soluções podem contribuir para melhorar a vida de trabalhadores e empregadores brasileiros”, finaliza Adriana.